quinta-feira, abril 02, 2009

Madame B. (II)

Jurando que jamais contaria o segredo de Madame B., caso ela lhe explicasse porque nunca fora vista longe da rua em que morava (e que era, não por acaso, a mesma da mercearia, da escola, da igreja, da biblioteca e da rinha de galos), o rapaz ouviu a explicação: Uma moeda, quando roda, dá a impressão de ser uma bola maciça. O mundo e todas as coisas que parecem uma esfera são na verdade, a meu ver, como uma moeda. Pequena, se uma bolinha. Gigantesca, no caso do planeta. A minha rua é exatamente a borda lateral, achatada, desta moeda. E se dela me desviar, fatalmente cairei.

O rapaz perguntou, com uma sobrancelha levantada e a outra em repouso: E como a senhora explica as pessoas que não despencam quando se afastam da sua rua?

Elas não têm medo de errar (Madame B. disse e piscou um olho).

Da hora seguinte em diante, e até hoje, o rapaz jamais foi visto. Alguns dizem que, na noite anterior ao dia em que ele não mais foi encontrado, ouviram um grito forte que, aos poucos, tornou-se agudo e longínquo, como se alguém caísse num precipício.

2 comentários:

ainda mais estórias disse...

Esse seu texto explica algo a mim.
E assim, com suas próprias palavras, tento explicar meu medo a você.

Perfeito.

Débora Didonê disse...

caraca, estou virando tua fã!